Friday, April 15, 2011

Dia 8: de Fez a Chefchaouen (Parte 3)

Parámos para um almocinho ali por volta das 2 da tarde. E desta vez acertámos em cheio!

Uma pequena tasca, de aspecto muito duvidoso, onde nem sequer perguntaram o que queríamos: "é para almoçar?", e começou a limpar a mesa.

Limpar a mesa consistiu em esfregar um papel manteiga, deixando tudo na mesma gorduroso. Demos um jeito extra com uns toalhetes de forma a que não nos sujássemos de óleo gorduroso para a viagem.

E o almoço chegou:


Sem qualquer dúvida, a melhor refeição de marrocos. O peixe estava simplesmente delicioso, acompanhava com uma salada marroquina e pão.


Foi mesmo um grande momento do dia. O preço também foi surpreendente, pois pagámos 10 euros os quatro: 2,5 euros por pessoa.

Dia 8: de Fez a Chefchaouen (Parte 2)

De volta ao Hotel, rapidamente vestimos o equipamento e nos fizemos à estrada.

A estrada que liga Fez a Chefchaouen é lindíssima. Em bom estado, com imensos verdes e muita água.

Aproveitámos a passagem por uma barragem para tirar umas fotos-tipo-postal e pela primeira vez conseguimos tirar umas fotos de perto com o animal mais típico de Marrocos: o burro. É certo que toda a gente fala nos camelos, mas o animal que há por todos os lados em Marrocos é mesmo o burro. Mas o burro marroquino parece ser de uma raça anã, pois são todos bem pequenos, mesmo os adultos como é o caso deste (o do lado direito):


Mas não consegui dar uma festa no burro. Não se repara na fotografia, mas o burro tem as patas atadas: muito comum por aqui quer nos burros quer nos camelos e nos bois, de forma a impedi-los de ir longe. Este burro era claramente mal tratado pelos humanos: o olhar de pavor que nos colocou não deixou qualquer dúvida. Nem com oferta de uma guloseima para comer o convencemos, pelo que não insistimos muito, e deixámos o animal em paz.

Voltei para o outro lado da estrada, passei um pentezinho no cabelo, e com a minha tangerina fiz pose para um postal:


A Lina berrou que eu estava a estragar a fotografia, e não posso deixar de lhe dar razão. Corrigiu-se de seguida:


A Sabrina, o Massimo e a SLR também se fizeram à foto:

Dia 8: de Fez a Chefchaouen (Parte 1)

A manhã foi reservada para visitar Fez. Com a experiência caótica de transito do dia anterior, decidimos deixar as motas e a tralha toda no hotel e ir de taxi para a Medina.

Os taxis em Fez são muito engraçados:

Entrámos na Medina antiga mas como era Sabado as lojas estavam fechadas, e o movimento na rua era bastante reduzido.


Aquela criança de camisola vermelha à esquerda estragou-nos por completo a manhã. Esta foto é à nossa entrada na Medina, onde ele nos abordou. Queria ser o nosso guia, mas recusámos, e o puto não nos largou. Primeiro isto, depois aquilo, depois já nos pedia dinheiro para se calar e ir embora. Nestes casos a nossa solução foi sempre ignorar, mas este puto decidiu passar para a agressividade e começou a insultar em todas as línguas. Gritava aos nossos ouvidos e fugia. Berrava. Isto de seguida. Um inferno. Sabia uns quantos insultos em espanhol e usou-os todos. Já é muito mau um tipo ser insultado por um puto, mas em espanhol então...

O Massimo perdeu a calma e esteve a segundos de dar um correctivo no puto, mas controlou-se a tempo. Decidiu então fazer queixa a um policia. Nessa altura, já alguns árabes tinham percebido que algo estava mal, e um deles pega no puto e aplica-lhe uns bons estaladões - com uma violência que não passa pela cabeça, embora o merecesse - e o puto afasta-se. Mas não para muito longe.

A mistura de um dia exaustivo na véspera, com o desgosto de encontrar a medina com as lojas todas encerradas, com este puto que não dava tréguas foi o suficiente para nos fazer voltar à estrada rapidamente.

Que se lixe Fez! Que se lixem as grandes cidades! O Marrocos que gostamos é outro!
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Thursday, April 14, 2011

Dia 7: de Merzouga a Fez (Parte 6)

Não tenho fotos para ilustrar a chegada a Fez. Tanto a minha máquina como a do Massimo registam em Azrou as últimas fotos do dia. Nem a passagem por Ifrane - uma estancia de esqui que é conhecida pela "Suíça Marroquina" com casas cuja arquitectura que lembra a Europa - nos fez parar, nem para tirar uma mísera foto.

Chegámos a Fez ao anoitecer. Decidimos entrar para a zona da Medina Antiga e foi um erro: nessa zona a oferta de hotéis era muito reduzida. Ainda entrámos num, mas os quartos não nos agradaram, devido ao baixo nível de higiene...

Seguimos para o centro moderno da cidade que é absolutamente caótico. Transito e mais transito, tudo ao molho, e nas ruas principais não se avistava nada de hotéis. Pedimos umas indicações e rumámos a um perto de um MacDonalds (já estávamos mesmo na civilização...), mas o Hotel era de 5 estrelas. Enquanto eu esperava perto das motas, vi uns quantos espanhóis entrar de BMW's, pelo que achei que estávamos safos. Achei mal. Os quartos eram a 120 euros por casal. Quando foram informados do preço, viraram costas, e foram surpreendidos com um "quanto desejam pagar?". Por todo o Marrocos tinha sido assim, mas não sei porquê julgámos que nos hotéis de 5 estrelas as coisas seriam diferentes. Baixavam o preço até aos 80 euros. Mesmo assim este valor era mais do dobro do que tínhamos pago até então, pelo que decidimos que não valia a pena esbanjar assim dinheiro.

Enquanto decorria a negociata de preços no interior do Hotel, eu tinha sido abordado no exterior por um miúdo dos seus 18 anos que me estava a tentar convencer a ir para o hotel dele, "muito frequentado por motociclistas e mesmo ali ao lado". Assim, decidimos arriscar. O miúdo disse que ia na nossa frente e foi: a correr. Julguei que fosse mesmo ali ao lado mas não: o hotel ainda era bem distante, e fizemos o percurso todo a seguir o miúdo que dava o seu melhor. Eu não tenho estômago para isto, confesso: não acho nada correcto ter um puto a correr à frente de uma mota para me indicar um hotel. Finalmente chegámos ao Hotel e até era uma coisa simpática, limpa e com local para a mota, mas também não cumpria os mínimos. Saímos dali, mas não sem antes deixar uma boa gorjeta ao puto.

Nestas coisas de andar de um lado para o outro a noite ia caindo. Já quase nas 10 da noite, estávamos famintos, exaustos, porcos, já nada batia bem, e acho que já nem raciocinávamos como deve ser. Demos connosco a barafustar uns com os outros sem qualquer razão senão o desespero. Foi nessa altura que eu sugeri a única coisa lógica que poderíamos fazer: arranjar um restaurante o mais perto possível, jantar tranquilamente, e depois pensar no raio do hotel: sugestão aprovada por unanimidade.

Nem tínhamos andado 100 metros de mota e vimos uma pizaria com uma excelente esplanada. Foi o tempo de estacionar as motas. À frente de umas pizas e de umas coca-colas a lucidez começou a voltar, e daí para a boa disposição. E tivemos um golpe de sorte: um dos marroquinos que estava noutra mesa ouviu que aqui se falava italiano e aproximou-se de nós: tinha estado emigrado em Itália uns anos, bem perto da terra onde vivia a Sabrina. Pedimos-lhe indicações para chegar a um Ibis e ele foi simpático o suficiente para nos levar lá. E desta vez não foi ninguém a correr à frente da mota, seguimos o carro dele.

O Íbis era perto da estação de comboios, um pouco barulhento, mas tinha um parque de estacionamento com guarda no exterior. Mas o azar voltou: estava cheio. Voltámos às motas e no meio do "tentar ir para um hotel que um de nós tinha visto" passámos por um hotel e decidimos parar. Perfeito: não tinha parque de estacionamento mas podíamos deixar as motas em cima do passeio e tinham um guarda que zelaria a noite toda. E os quartos eram limpos qb.

Foi o tempo de tomar um duche e mergulhar nas almofadas e começar a dormir! Finalmente!

Mas por volta das duas e meia da manhã eu e a Lina acordámos com o meu telefone a tocar: uma SMS. A nossa mota anterior - uma Varadero também - foi-nos roubada em Palermo, na Sicília, aqui há dois anos atrás. Nesta mota eu decidi investir um pouco mais em segurança e adicionei-lhe primeiro um alarme e depois um localizador GPS. Acabei por ligar os dois e agora quando o alarme toca, a mota envia-me um SMS. E lá estava ela, a meio da noite, a cumprir o seu dever, a enviar-me um SMS!

Vesti umas calças e saio a correr do quarto: descalço, em tronco nu, mas com uma grande vontade de comer um árabe vivo. Pulo pelas escadas do hotel e passo que nem um raio por um incrédulo recepcionista, que via televisão tranquilamente.

Chego à rua e nada, tudo numa grande calmaria: as motas sossegadas no local onde as tínhamos deixado, nenhum movimento, excepto o do guarda que se levanta na minha direcção. O homem da recepção sai também e pergunta-me o que aconteceu. "O alarme da minha mota tocou"; "Não senhor, não tocou", e confirma com o guarda. Enquanto eu tento explicar que o meu telefone toca quando o alarme toca chega a Lina com o telefone. Pego no SMS para lhe mostrar e reparo na mensagem: "bateria fraca". O raio do alarme tem uma bateria interna que está nas ultimas e avisa-me do problema, eu é que nem sequer liguei à mensagem!

Desactivei o alarme da bateria fraca - neste caso o alarme continua activo mas usa a bateria da mota, o que é irrelevante pois estamos sempre em andamento e o consumo é minimo - e voltei para a cama.

Raio de dia: desde o ter de deixar as dunas, até à ventania no atlas, a aventura para descobrir um hotel, só este episódio para ser a cereja em cima do bolo.

Tudo sem o raio de uma fotografia! :-)

Dia 7: de Merzouga a Fez (Parte 5)

Uma pequena estradinha, já em alcatrão, liga a Floresta dos Cedros a Azrou.



Já em Azrou, parámos no centro para decidir a nossa vida.



O dia já estava a acabar e tínhamos de decidir se ficávamos por ali. A floresta dos cedros já estava vista, pelo que pouco nos retia na zona, mas o nosso próximo destino - Fez - ainda estava a 85 km, o que dava pelo menos uma hora de viagem.

Pareceu-nos a escolha mais acertada.

Dia 7: de Merzouga a Fez (Parte 4)

E depois do martírio do vento temos de novo uma estrada impecável com umas belas curvas para animar. E é já a meio da tarde que nos metemos por um estradão de terra batida para o centro da Floresta dos Cedros.




A Floresta dos Cedros é um local mágico. É entrar no nosso pinhal de Leiria e aparecer uma fada que nos encolhe e ficamos assim pequeninos ao pé das árvores. Os grandes cedros, o saber da sua existência centenária, todo aquele ambiente místico.

Fomos informados que para ver os macacos selvagens teríamos de caminhar por ali adentro uns bons quilómetros. Vontade não nos faltava, mas faltava o tempo. O dia já estava quase no fim, e ainda nem tínhamos decidido onde passar a noite. Talvez mesmo ali ao pé, em Azrou.

Andámos por ali mais um bocadinho e voltámos à estrada.



Esta foto é para a minha amiga Isa, a Marciana dos Pés Que Tocam Lugares perceber o esforço que um tipo passa só para lhe enriquecer o blog!

Quando a Isa colocar a foto que eu tirei eu meto aqui o link :-)

Dia 7: de Merzouga a Fez (Parte 3)

Gostaria mesmo de esquecer esta hora de viagem, onde andámos totalmente concentrados em não cair. Eu adoro andar de mota, mas debaixo deste vento a viagem perde toda a piada.

De quando em quando tínhamos de parar, os dois pés bem colocados no chão, para descansar um pouco e tirar umas fotos ao redor.




O Atlas ia acabando e a paisagem começava a ser mais verde. O vento, aos poucos, ia parando, à medida que os vales ia desaparecendo e começámos a entrar numa zona com mais montanhas.

Dia 7: de Merzouga a Fez (Parte 2)

Pelo título que dei a este dia nota-se que os quilómetros vão ser bastantes. De facto, 470 quilómetros separam estas duas localidades, isto a direito. E mais uma vez atravessamos o Atlas.

Pequeno-almoço tomado deixamos Merzouga e fazemos uma paragem em Erfou apenas para abastecer. Já conhecíamos a estrada, não havia possibilidades de um percurso alternativo aqui.

Entrámos no Atlas logo após Errachidia, onde a paisagem de água e deserto se juntam.



Aqui o Atlas é muito diferente do que tínhamos presenciado. Não tinha aquela verdura imensa, a altura, e a neve quando o atravessámos em Marrakech. Fazíamos alguns percursos de subida, e depois dentro da montanha tínhamos enormes vales monótonos.



Nenhum local merecia que parássemos pelo que andámos por ali a comer quilómetros a manhã inteira. Antes de chegar a Midelt, onde parámos para almoçar, o vento apareceu em força.

Muita gente me pergunta "como é que fazemos no inverno com a chuva", mas o maior medo que tenho quando estou em cima de uma mota é o vento. E o vento aqui em cima no Atlas não foi nada nosso amigo. Foi mais de uma hora com vento intenso, irregular, que nos fazia andar inclinados para o combater, e que no momento seguinte podia nos empurrar para o lado completamente oposto. "Isto não é para meninos". Na maior parte das vezes o vento vinha do meu lado esquerdo, e empurrava-me o capacete de encontro à bochecha. E eu sou tão magro que normalmente nem bochecha tenho, mas este vento fazia que o capacete a encontrasse sem quaisquer problemas. Um esforço também para o pescoço.

Quando parámos, em Midelt, para almoçar, tanto eu como o Massimo apresentávamos visíveis sinais de cansaço. Mesmo parados, o raio do vento fazia circular ali pelos ares folhas e terra, tínhamos mesmo de aproveitar e almoçar num sítio abrigado.

Andámos ali pelas estrada principal da cidade, mas nada nos parecia acolhedor. Escolhemos finalmente um restaurante:


Este restaurante fica-nos na memória. À entrada, somos recebidos por um casal idoso, ele com um ar de filme, vestido com um fato que já viu muitos invernos e já comeu muito vento da região, ela com saia de fazenda e casaco de malha, lenço na cabeça. O cheiro da velhota era uma coisa do outro mundo, não devia ver água há muito. A senhora explica-nos em espanhol (era espanhola, veio viver para Marrocos há muito) que o restaurante está em remodelação e que só nos pode fornecer o Menu Completo, por 8 euros por pessoa. Eu faço sinal que me vou embora, ela fala com ele, e o preço desce para os 6. Ficámos.

Mas a comida não era nada de jeito, o cheiro da velhota de quando em quando chegava-nos à mesa, o que tornou a nossa refeição numa coisa muito rápida.

Voltámos à estrada e ao vento. Raio do vento, agora da parte da tarde ainda ficou mais forte.... Um suplício, um suplício!

Dia 7: de Merzouga a Fez (Parte 1)

Eu não vi mas um casalinho de italianos contou-me que o nascer do sol nas dunas também é um espectáculo do outro mundo.

Tudo começa, obviamente, com uma corridinha...



E uns alongamentos nas dunas enquanto o sol não aparece...


"Massimo, o sol deve nascer mais ou menos ali, estás a ver?" (tradução para português)



Uma coisa é certa para quem não viveu isto: o sorriso da Sabrina conta o momento.


E pronto. É altura de ir acordar os tugas, e irmos de novo para a estrada. Além do mais aquelas motas já estão paradas há umas 14 horas...

Wednesday, April 13, 2011

Dia 6: do Todra a Merzouga (Parte 9)

Deixem-me relembrar a grandeza deste dia! Começámos por tomar o pequeno almoço num jardim, debaixo de umas árvores, calmamente, a usufruir a grandeza das gargantas do Todra. Seguimos por estradas sem ninguém, com aldeias pelo meio onde tudo se vendia ali mesmo no meio das ruas principais. Chegámos onde as estradas acabam e o deserto de areia começa. Parámos para descansar com um mergulho numa piscina de sonho num hotel paradisíaco. Antes do anoitecer marchámos para as dunas para um pôr-do-sol de sonho. E acabámos no meio de uma tempestade de areia.

Se não tivesse documentado tudo com fotografias, acredito que nesta altura só podiam estar a dizer que tenho uma grande imaginação.

Tenho pena que esta foto esteja tremida, mas é a única que tenho à porta do quarto, no 1º andar, depois de um bom duche quente, e que culmina o relato deste dia: o jantar.



E o Brahim lá estava, com a sua banda, a alegrar a coisa.


As pessoas nesta zona de Marrocos são impecáveis, muito amáveis, sempre dispostas para a brincadeira. Parece outro país.

O que ajudou imenso a acabar este excelente dia.

Preciso aqui de deixar um agradecimento muito especial ao Zé Paulo. Antes de partir para Marrocos, fiz um esquema da viagem que lhe passei para as mãos. O deserto da areia - as dunas - não estavam nesse nosso esquema e foi o Zé Paulo que chamou a atenção (passo a transcrever):

"(...) mas uma coisa que eu não deixaria de fazer, já que passam tão perto, era ir às dunas do Erg Chebbi (Merzouga). De Er Rachidia a Erfoud-Rissani/Merzouga é um tirinho e acho que vale bem a pena passar lá um dia/uma noite pela paisagem dunar e experiência do deserto."

Nós somos viajantes à deriva, não temos planos concretos de viagem, não temos hotéis marcados, acordamos sem saber onde vamos dormir no dia seguinte. Mas antes de partir delineamos um percurso e marcamos alguns locais que não queremos perder.
Pedir a opinião aos viajantes que antes de nós já lá passaram é algo que aconselho a qualquer um.

Dia 6: do Todra a Merzouga (Parte 8)

Esta foto é a única que temos do jeep. Mostra o momento em que nos metemos a caminho de regresso ao Hotel...


... e abre o caminho para o que nos aconteceu a seguir. O amigo do Brahim afinal não era nem brincalhão nem mentiroso, e nem cinco minutos tinha passado e já estávamos no meio da tal tempestade de areia.


O cenário realmente assusta, mesmo refugiados no interior do jeep. De repente tudo fica escuro, e deixamos de ver a muito poucos metros de distância. No meio daquela areia caem grandes pingos de chuva - nem sei se lhes chame chuva, se apenas pingos, porque estas gotas enormes caem apenas de quando em quando.

O Brahim conduz o jeep a uns cinco quilómetros por hora, e ao mesmo tempo vamos vendo grupos de camelos e de pessoas que lá vão procurando abrigo.



"E assim como veio partiu, não se sabe para onde", e passado uns minutos toda a adrenalina de estar no meio de uma tempestade de areia não tinha qualquer razão de ser.


A tempestade deixou duas marcas muito intensas: a cor das dunas ficou completamente diferente, e tudo - tudo! - ficou sujo de areia. Inclusivé duas motas que ainda tinham muitos quilómetros pela frente, e muitas fotografias para fazer pose...

Para os homens do deserto, é tempo de pegar no telemóvel e ligar aos amigos: "opah, tu andas onde, hem? Olha que tá a sair daqui uma tempestade de areia nessa direcção!"


Dia 6: do Todra a Merzouga (Parte 7)

E no final do dia lá tínhamos o jeep à nossa espera. Um Toyota com a suspensão toda levantada, mesmo preparado para aquele ambiente. O nosso carro de família é uma pick-up de caixa aberta, pelo que já estamos habituados a estas coisas.

O nosso guia mantinha uma velocidade muito reduzida, e ainda tentámos convencê-lo a deixar a Lina conduzir aquilo, mas em vão. A minha mulher é uma "pro" a conduzir um todo-o-terreno, consegue até acender luzes de aviso que a malta da oficina da Mitsubishi nem sabia que existiam, e a fama dela já deve ter chegado aqueles lados de tal forma que o Brahim só se agarrava ao volante e dizia "não! não! não!". Nem sabe o que perdeu, aquilo a abrir deveria ter sido bem engraçado...

Saímos do hotel e ficámos com as dunas pela direita. Percorremos pistas que não são bem pistas delineadas: o nosso guia escolhe uma direcção e vai levando o carro por ali. Já muito perto do nada, parámos o jeep, e munidos com duas garrafas de água lá fomos nós escalar as dunas. Descalços, para sentir bem a coisa.



Estar nas dunas é uma sensação lunar. A areia é muito fina, e conseguimos escalar montes com uma grande inclinação. Puxa por nós, pelo corpo, é deveras cansativo com os pés sempre enterrados. O som dificilmente se propaga neste ambiente, pelo que a sensação de silêncio é brutal, e mesmo os diálogos tomam outra forma: não há "música" de fundo. O cheiro a terra, terra, terra! A música do Caetano Veloso não me veio à cabeça na altura, mas os versos "Terra! Terra! Por mais distante, O errante navegante" são os que me chegam agora com a recordação. O certo é que quem viveu o deserto jamais o esquecerá.

Quando nos cansámos de andar, de escalar, ficámos por ali, deitados na areia, a aproveitar o momento. Até que chegou o momento esperado: o pôr-do-sol. No comments.


Nenhuma destas 3 almas são de Paço de Arcos, mas na terra do fotógrafo temos um costume de posar para as fotos assim.

Quando o sol finalmente se escondeu as cores do deserto mudaram, e a areia ficou ainda mais doirada. Um momento perfeito para se tirar umas fotos dos casalinhos.



Nesta altura o Brahim recebe um SMS de um amigo a avisar que uma tempestade de areia estava ali a 10 km e que vinha na nossa direcção. A Lina riu-se com uma boa gargalhada e perguntou se o amigo enviava sempre uma SMS dessas para despachar a coisa...

Mas pelo sim pelo não perguntámos como deveríamos proceder e a resposta foi deveras simples: "tapamos os olhos e a boca com as camisolas e esperamos que passe. São uns minutos". Mas nós estávamos num sítio tão alto e a visibilidade ao redor era tão grande que com certeza se existisse uma tempestade algures nós dali conseguiríamos ver alguma coisa.

Ficámos por ali a aproveitar um pouco mais o deserto, completamente nas calmas, e ainda nos divertimos como putos pequenos com a descida das dunas.





"Life is fun!"

Dia 6: do Todra a Merzouga (Parte 6)

Escolhemos o Hotel ao acaso, e foi um excelente acaso.

O preço foi de 50 euros por casal, com o jantar e o pequeno-almoço incluídos. Ah, e ao jantar teremos um espectáculo de musica berber. Perfeito.

O Hotel fazia lembrar as mil e uma noites. Era construído à roda de uma piscina que fazia lembrar a piscina de Cleópatra. Tudo em arcos à volta, as paredes numa mistura de barro e palha, de uma grande simplicidade. E tudo isto ali mesmo à beira das dunas.

Decidimos almoçar por ali também, e aproveitar a piscina.

Eu e o Massimo ainda subimos ao terraço para tirar umas fotografias ali da zona ao redor.


E aproveitei ainda para tirar a já tradicional foto do pezinho:


Durante o almoço vimos as possibilidades de ir passear e ver o pôr-do-sol nas dunas. No hotel deram-nos 3 opções: camelo, jeep ou moto-4. Andar de camelo não estava nos nossos planos, além do que as viagens de camelo eram todas de várias horas. A moto-4 ainda chegou a ser uma opção, mas acabámos mesmo por optar pelo jeep.

Havia várias opções turísticas pelo meio, que além das dunas incluía a visita a uma aldeia, mas era tudo programas para várias horas. O que nós queríamos era muito simples: sair do hotel ao fim do dia, subir às dunas e ver o pôr-do-sol. Programa para no máximo duas horas. Acabámos por acertar isso mesmo, por 50 euros para os 4. Perfeito.

Não posso deixar de fazer referência ao Hotel onde fomos tão bem recebidos. O link é este:


Vão lá dar uma olhada nas fotos do Hotel, que é mesmo bonito. O nosso anfitrião, sempre com um sorriso e sempre bem disposto, o Brahim Naciri.