Friday, April 8, 2011

Dia 1: Leião - Asilah (Parte 2)

Entrámos no barco já passava das 23h (mas ainda sintonizados nas nossas 22h) e completamente exaustos. O facto de termos dormido pouco na noite anterior, o calor que se fez sentir em Espanha, e a viagem ter sido demasiado longa com a paragem forçada para o bricolage tinha sido demais. O cansaço era visível em todos os rostos.

O último barco da noite tinha muitos camiões e muito poucos carros. O aspecto era este:


A viagem de meia-hora foi muito tranquila, quase que adormecemos...


Ao sair do barco em Marrocos tivemos um contratempo. Devíamos ter carimbado os passaportes dentro do barco mas não o fizemos (coisa que a Paula Kota nos tinha avisado, e que com certeza foi divulgado no barco, mas que nos escapou por completo). Assim, tivemos de esperar que o Policia retornasse ao barco: eu e o Massimo ficámos nas motas enquantos as senhoras foram para dentro do barco esperar, esperar, esperar...


Depois do carimbo lá marchámos para o resto das burocracias: carta verde das motas, passaportes, isto e aquilo. "Ah são portugueses". "Ah espera são italianos". Mesmo aquela hora da noite sem ninguém nos serviços de fronteira perdemos ali um tempão. Nas calmas, tudo nas calmas.

Pela fronteira notava-se perfeitamente que a Europa estava lá longe. A policia fardada com os pés em cima das mesas, um ou outro estavam mesmo a dormitar em cima das mesas, e o fumo do tabaco é tanto que deixa uma nuvem dentro das pequenas cabines. Os uniformes até são distintos, parecem os nossos uniformes de gala, mas a atitude deixa tudo a perder. Tudo é feito com muita calma. Muita, muita calma.

Os carros dos marroquinos vinham apinhados de coisas (talvez o Massimo tenha uma foto, porque descrever é impossível), e algum deles tinham sido obrigados a tirar tudo para fora para controlo. Penso que seriam horas a tirar tudo - e tudo era só cangalhada, desde cavalinhos de baloiço a rodas suplentes com 30 anos - e outras tantas horas a encafuar tudo de volta. Encafuar é mesmo a palavra, porque arrumado nunca caberia tanta coisa dentro de um carro. Bem, na verdade todos os tejadilhos estavam também bem utilizados...

Do resto do dia não tenho mais fotos, mas como foi o nosso primeiro contacto com Marrocos não posso deixar de o relatar.

Entrámos na autoestrada e percebemos que estávamos a 40 km de Tanger, o que passava para 80km os 40km que estávamos à espera de percorrer até Asilah. Mas que se lixe, estávamos em Marrocos e a noite até estava porreira para andar de mota.

Paragem na primeira bomba para abastecer com gasolina a 1 euro, e aproveitámos para trocar uns euros por dirham's para ter dinheiro para pagar as portagens: em Marrocos são sempre pagas em dinheiro.

A chegada a Asilah foi uma coisa do outro mundo. Não tínhamos nada marcado e não se via qualquer placa a dizer Hotel. A hora em que chegámos era também a hora em que a cidade "estava a fechar as portas": montes de gente nas ruas a arrumar cadeiras, a varrer os passeios, a deitar o lixo fora. Aquele cenário habitual de uma cidade que se está a deitar, com a diferença que é Marrocos e que tudo é sujo e barulhento.

Onde é que há um Ibis, oh caraças? :-)

Andámos ali às voltas, e sempre que parávamos num cruzamento para trocar umas ideias apareciam não sei quantos tipos que indicavam hotéis todos para lados diferentes. Passámos por um hotel, mas o aspecto exterior e o tipo que estava à porta inspirava tudo menos confiança. Finalmente lá parámos numa coisa que pareciam quartos para alugar e atrás de nós parou uma carrinha da polícia. Enquanto estávamos a tentar perceber se aquilo era mesmo um hotel ou pensão saíram três tipos (dois dos quais em pijama) para falar com os policias. De seguida, chega uma carrinha tipo Ford Transit com uma família enorme, com os putos todos despertos e a brincar como se fosse uma bela manhã. Confesso que não estava nada sintonizado para uma cena destas a estas horas, e acho que até o Fellini não se lembraria de meter um tipo a sair de um beco com um cavalo pela trela, que foi precisamente o que aconteceu.

Umas duas da manhã, e uma algazarra do caraças em árabe ali no meio da rua. Não percebemos nada do que se passava. Estamos lixados.

Aquela agitação toda de repente esmoreceu e aproveitámos para perguntar se alguém sabia onde podíamos dormir. O tipo que tinha saído da casa com os sujeitos de pijama disse-nos que sim, que tinha quartos, e ficámos ali à espera que o tipo acabasse seja lá o assunto que tinha a tratar com a policia. Com calma.

As miúdas lá foram ver se as condições eram admissíveis. Afinal não tinha quartos, mas um apartamento com um quarto com 4 camas, limpinho, por 35 euros. Aquela hora já tudo marchava. E as motas? A policia indicou-nos uma garagem privada ali "ao pé do cinema", deixámos as senhoras no apartamento e lá fomos.

Juro-vos que se não fosse a policia a ir connosco nunca teria deixado ali a mota. Um portão de metal já comido por muitos anos, e quem nos abre o portão é um tipo sem dentes e olho branco, que troca umas palavras em árabe com o policia. O policia vai embora e o tipo fala connosco em Espanhol pior que o nosso. Pergunta qual a nossa origem, e pelas duas motas quer 3 euros para passar a noite. Pelo preço do apartamento, vimos logo que estávamos a ser comidos mas não tínhamos nada vontade de andar a discutir um euro ou dois com o tipo que nos ia guardar as motas. E tínhamos sono, muito sono. E estávamos completamente aparvalhados por todo aquele cenário. Lá abriu a "porta" e aquilo não era uma garagem mas um pátio. Serviu perfeitamente, as motas ficaram lindamente.

Depois disto, lembro-me vagamente de sair do duche e ver se a cama era fofinha.
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6 comments:

  1. Excelente relato, parabéns!
    Estive em Marrakech no mês passado, pelo que nada me espanta naquele país.
    Neste vosso relato do 1.º dia, admira-me o improviso, com a chegada de noite sem hotel escolhido.
    Estou curioso para ver a continuação!

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  2. O filme está ser bom, aliás, muito bom, tanto mais que apesar de não saber o enredo, já sei que desta, o heroi ( a mota ) regressou a casa...

    Manda mais Artur que eu cá estou para ler!!!

    Abraços
    Mata Ratos ou De sousa como preferires!!!

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  3. já chorei a rir com as vossas peripécias .... não oubiste nada doketedisse antes da biage

    eh eh eh eh eh

    manda mais ... isto promete

    Paula Kota

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  4. estou farto de me rir lol
    sou desse club
    do improviso
    Armando

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  5. A cena do tipo de pijama é qualquer coisa!:) Era a prova viva do hotel!

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  6. Acabo de conhecer seu blog, não sei se dou risada ou se fico com pena. Mas acho que até o final da leitura de todos os post ainda assim terei certeza de que realmente quero conhecer Marrocos!

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