Saturday, April 9, 2011

Dia 2: Asilah - Marrakesh (Parte 1)

A manhã em Asilah deu-nos uma perspectiva diferente. Nada como um duche e umas horas de sono para que a realidade se torne logo outra. O plano do dia é tomar o pequeno almoço, dar uma volta rápida pelo centro da cidade, e partir para Marrakesh.

Estávamos mesmo a dois passos da Medina, e reconheci de imediato os apartamentos que o Manuel Peixoto me tinha recomendado, com garagem na parte de baixo e tudo. Bolas, ontem à noite passei por aqui umas 10 vezes...

Eis uma foto que cumpre bem as suas duas funções: mostra bem a nossa animação matinal e permite que me gozem pela tinta das luvas nas minhas mãos.

Não achámos grande piada a Asilah: a medina é muito pequena com poucos pontos de interesse - mas a paisagem e a arquitectura mostram que estamos noutro país.


Os sinais de transito são mesmo diferentes!


Toca de tomar o pequeno almoço e marchar para Marrakech!

Ah, e perguntam vocês: "e as motas, pah, ainda lá estavam?"

Estavam. No caminho para ir buscar as motas eu e o Massimo combinávamos que tínhamos de tirar uma foto ao pé daquela figura fantástica da noite anterior. Mas o que se seguiu foi tão intenso que nos esquecemos por completo.

Chegámos e o portão do pátio estava aberto. Maior parte dos carros que estavam lá na noite anterior já tinham saído, e as motas estavam lá no sítio. Alívio.

Porém, foi outro árabe que veio falar connosco. Demos-lhe duas palavras e dirigimo-nos às motas. E foi aí que percebemos que afinal o nosso amigo não se tinha embora: o pobre desgraçado tinha dormido ali, numa esteira no chão, cobertor por cima, mesmo ao lado das motas. A imagem de um sem abrigo lisboeta mas ali, pago por nós, cumprindo a sua tarefa de guardião. Peguei em 3 moedas de euros e entreguei-lhe e ele pergunta se não lhe posso dar 30 dirhams em vez de três euros, pois ao trocar moedas em vez de notas ele iria perder 3 dirham na conversão, e teria assim 27 dirham em vez dos esperados 30. A grosso modo, discutia-se ali menos de 30 cêntimos.

Entretanto precisávamos de conferir e afinar a bricolage do dia anterior, pelo que o Massimo arranjou a desculpa de utilizar a ferramenta da casa para deixar ao homem 5 euros.

Enquanto se executava o trabalho, o homem começou a puxar conversa... para a situação politica em Portugal. Falou da crise, do Sócrates, da entrada do FMI. Oh Fellini, ontem à noite com o cavalo ainda te dava um desconto, mas este desgraçado que dorme no chão ao lado de duas motas por 3 euros e que te fala sobre a politica nacional é que nem te passava pelos sonhos, não era? E eu, caraças, bem envergonhado, pois tenho uma pequena noção que o país dele é uma monarquia mas que nem sei (nem quero saber, é certo) se aquilo tem alguma espécie de governo além do Real.

Saímos dali com as motas e completamente à toa. Espanto.

No caminho para sair da cidade o olhar perspicaz da Lina ainda apanhou isto:


Por mais que nos preparem para Marrocos, é mesmo preciso estar lá e ver isto com os próprios olhos para perceber que estas cenas não são casos isolados e fantásticos mas sim a realidade de um povo. Mais à frente iremos ter outras pessoas a dormir ao lado das nossas motas, e vamos ver vezes sem conta os tipos naqueles andaimes que não lembram a ninguém.

Oh caraças, isto não é na conchichina: é mesmo aqui ao lado.

1 comment:

  1. Muito bom...vim ler a tua crónica pelo facebook e adorei..continua...tá excelente!!!

    Parabéns!!

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