Thursday, April 14, 2011

Dia 7: de Merzouga a Fez (Parte 6)

Não tenho fotos para ilustrar a chegada a Fez. Tanto a minha máquina como a do Massimo registam em Azrou as últimas fotos do dia. Nem a passagem por Ifrane - uma estancia de esqui que é conhecida pela "Suíça Marroquina" com casas cuja arquitectura que lembra a Europa - nos fez parar, nem para tirar uma mísera foto.

Chegámos a Fez ao anoitecer. Decidimos entrar para a zona da Medina Antiga e foi um erro: nessa zona a oferta de hotéis era muito reduzida. Ainda entrámos num, mas os quartos não nos agradaram, devido ao baixo nível de higiene...

Seguimos para o centro moderno da cidade que é absolutamente caótico. Transito e mais transito, tudo ao molho, e nas ruas principais não se avistava nada de hotéis. Pedimos umas indicações e rumámos a um perto de um MacDonalds (já estávamos mesmo na civilização...), mas o Hotel era de 5 estrelas. Enquanto eu esperava perto das motas, vi uns quantos espanhóis entrar de BMW's, pelo que achei que estávamos safos. Achei mal. Os quartos eram a 120 euros por casal. Quando foram informados do preço, viraram costas, e foram surpreendidos com um "quanto desejam pagar?". Por todo o Marrocos tinha sido assim, mas não sei porquê julgámos que nos hotéis de 5 estrelas as coisas seriam diferentes. Baixavam o preço até aos 80 euros. Mesmo assim este valor era mais do dobro do que tínhamos pago até então, pelo que decidimos que não valia a pena esbanjar assim dinheiro.

Enquanto decorria a negociata de preços no interior do Hotel, eu tinha sido abordado no exterior por um miúdo dos seus 18 anos que me estava a tentar convencer a ir para o hotel dele, "muito frequentado por motociclistas e mesmo ali ao lado". Assim, decidimos arriscar. O miúdo disse que ia na nossa frente e foi: a correr. Julguei que fosse mesmo ali ao lado mas não: o hotel ainda era bem distante, e fizemos o percurso todo a seguir o miúdo que dava o seu melhor. Eu não tenho estômago para isto, confesso: não acho nada correcto ter um puto a correr à frente de uma mota para me indicar um hotel. Finalmente chegámos ao Hotel e até era uma coisa simpática, limpa e com local para a mota, mas também não cumpria os mínimos. Saímos dali, mas não sem antes deixar uma boa gorjeta ao puto.

Nestas coisas de andar de um lado para o outro a noite ia caindo. Já quase nas 10 da noite, estávamos famintos, exaustos, porcos, já nada batia bem, e acho que já nem raciocinávamos como deve ser. Demos connosco a barafustar uns com os outros sem qualquer razão senão o desespero. Foi nessa altura que eu sugeri a única coisa lógica que poderíamos fazer: arranjar um restaurante o mais perto possível, jantar tranquilamente, e depois pensar no raio do hotel: sugestão aprovada por unanimidade.

Nem tínhamos andado 100 metros de mota e vimos uma pizaria com uma excelente esplanada. Foi o tempo de estacionar as motas. À frente de umas pizas e de umas coca-colas a lucidez começou a voltar, e daí para a boa disposição. E tivemos um golpe de sorte: um dos marroquinos que estava noutra mesa ouviu que aqui se falava italiano e aproximou-se de nós: tinha estado emigrado em Itália uns anos, bem perto da terra onde vivia a Sabrina. Pedimos-lhe indicações para chegar a um Ibis e ele foi simpático o suficiente para nos levar lá. E desta vez não foi ninguém a correr à frente da mota, seguimos o carro dele.

O Íbis era perto da estação de comboios, um pouco barulhento, mas tinha um parque de estacionamento com guarda no exterior. Mas o azar voltou: estava cheio. Voltámos às motas e no meio do "tentar ir para um hotel que um de nós tinha visto" passámos por um hotel e decidimos parar. Perfeito: não tinha parque de estacionamento mas podíamos deixar as motas em cima do passeio e tinham um guarda que zelaria a noite toda. E os quartos eram limpos qb.

Foi o tempo de tomar um duche e mergulhar nas almofadas e começar a dormir! Finalmente!

Mas por volta das duas e meia da manhã eu e a Lina acordámos com o meu telefone a tocar: uma SMS. A nossa mota anterior - uma Varadero também - foi-nos roubada em Palermo, na Sicília, aqui há dois anos atrás. Nesta mota eu decidi investir um pouco mais em segurança e adicionei-lhe primeiro um alarme e depois um localizador GPS. Acabei por ligar os dois e agora quando o alarme toca, a mota envia-me um SMS. E lá estava ela, a meio da noite, a cumprir o seu dever, a enviar-me um SMS!

Vesti umas calças e saio a correr do quarto: descalço, em tronco nu, mas com uma grande vontade de comer um árabe vivo. Pulo pelas escadas do hotel e passo que nem um raio por um incrédulo recepcionista, que via televisão tranquilamente.

Chego à rua e nada, tudo numa grande calmaria: as motas sossegadas no local onde as tínhamos deixado, nenhum movimento, excepto o do guarda que se levanta na minha direcção. O homem da recepção sai também e pergunta-me o que aconteceu. "O alarme da minha mota tocou"; "Não senhor, não tocou", e confirma com o guarda. Enquanto eu tento explicar que o meu telefone toca quando o alarme toca chega a Lina com o telefone. Pego no SMS para lhe mostrar e reparo na mensagem: "bateria fraca". O raio do alarme tem uma bateria interna que está nas ultimas e avisa-me do problema, eu é que nem sequer liguei à mensagem!

Desactivei o alarme da bateria fraca - neste caso o alarme continua activo mas usa a bateria da mota, o que é irrelevante pois estamos sempre em andamento e o consumo é minimo - e voltei para a cama.

Raio de dia: desde o ter de deixar as dunas, até à ventania no atlas, a aventura para descobrir um hotel, só este episódio para ser a cereja em cima do bolo.

Tudo sem o raio de uma fotografia! :-)

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