Tuesday, April 12, 2011

A meio da viagem...


Antes de retomar a crónica é tempo de fazer um pequeno ponto da situação, quer da viagem em si, quer do que estamos a viver viajando.

Aqui deixo uma imagem do trajecto efectuado dentro de Marrocos:


Em termos de quilómetros:

No 1º dia, fizemos cerca de 600 km até Gibraltar, e depois mais 100 já dentro de Marrocos para chegar a Asilah;
No 2º dia, fizemos cerca de 560 km até Marrakech;
No 3º dia não andámos de mota;
No 4º dia fizemos cerca de 260 km, até Ouarzazate, com uns desvio pelo meio;
No 5º dia fizemos cerca de 230 Km até ao Todra, com o passeio pelo Atlas ali ao nível do Dadés;

Mais coisa menos coisa: 1800 km.

As paisagens de Marrocos, com destaque para as suas cores, elevam esta viagem ao estatuto de fantástica. Todos os dias diferentes.

Tivemos muita sorte com o tempo: uma temperatura muito amena, perfeita para andar de mota. Nenhum vento - algum no topos isolados das montanhas - nenhuma chuva. O sol alguns dias aqueceu, mas nunca foi insuportável. O céu sempre descoberto.

Em termos culturais e sociais, o descalabro. A forma como as mulheres e as crianças são tratadas definem-se numa única palavra: escravatura. Sempre tive uma ideia clara da cultura árabe, mas a pequena escala que assisti aqui em Lisboa nunca me fez extrapolar para esta realidade.

Escravatura.

Tudo o que me ensinaram desde pequeno aqui aparece ao contrário: é tão complicado ver uma senhora a carregar pesos enormes ao lado do marido de mãos nos bolsos. Ainda mais complicado quando a figura do marido é substituída pela do filho adolescente. O futuro tão previsível.

Olhando para os campos, quem vimos a trabalhar é a mulher. Ou a criança. Por todo o Marrocos o único local onde vi o homem a trabalhar em algo que envolvesse esforço físico foi na construção civil. Tudo o resto era feito pela mulher. Ou pela criança.

O que falar, o que comentar, o que justificar, da escravatura ?

O facto é que estar num país onde a cultura é tão diferente que nos ofende, desgasta e choca, faz com que tentemos evitar as pessoas. A partir deste quinto dia já éramos pessoas muito pouco tolerantes, a nossa paciência começava a rarear, e procurávamos cada vez mais locais sem a presença humana.

Adiante.

Em termos económicos, Marrocos é para um português um local muito barato. Para um português motard a felicidade arranca logo na gasolina a 1 euro: fazer 1000 km em Marrocos custa cerca de 60 euros. A comida é barata também: um casal gasta cerca entre 10 a 12 euros por refeição. A estadia num hotel decente, com jantar e pequeno almoço, custa entre 40 a 70 euros.

Isto para quem viaja em casal e procura mais que os padrões mínimos de conforto numa atitude de moto-turismo e aproveitar as férias. Acredito que se estivesse a viajar sozinho ou num grupo "cada qual com a sua mota à aventura" isto seria certamente (bem) mais barato.

Marrocos é ainda um bom local para ir às compras, para quem gosta do estilo árabe, embora para quem viaja de mota o espaço é sempre um condicionante às compras.

Marrocos é sempre referenciado também como um país onde a droga abunda, principalmente o haxixe. Não demos por nada: fui abordado em Marrakech uma ou duas vezes, mas exactamente como seria nos Restauradores. Não vimos charrados nem junkies, com uma única excepção já mais a norte, com um casal de turistas.

Marrocos é a Disneyland de um coca-cola-holic como eu!

Também nos pareceu sempre tudo muito seguro (fora aquela primeira impressão da chegada a Asilah a meio da noite). Claro que sempre tivemos os cuidados básicos de um qualquer turista numa qualquer cidade, tendo sempre bastante cuidado com as carteiras e malas, etc, mas nunca sentimos receio, mesmo quando os locais eram propícios a roubos.

Marrocos é sujo, porco. Ruas sujas, gente suja. Sujo.

Fomos duas motas e dois casais o que me parece uma escolha bastante acertada para este tipo de viagem.

Há uma diferença enorme entre viajar de mota sozinho e em casal. Há uma diferença grande entre um casal viajar sozinho ou num grupo de 2 ou 3 casais. Há outra diferença enorme entre viajar de mota integrado num grupo grande. Estas diferenças tornam a experiência da viagem tão grande que ando tentado há muito tempo a escrever algo sobre este assunto, mas vou adiando porque não sei se não dará um livro.

Vou adiar outra vez.

1 comment:

  1. Bom post. Mais do que os posts descritivos, gosto destes. Concordo com muita coisa. Se queres mais acção, no que toca a drogas, há que ir para a zona do Rif, Tetouan, Chefchaouen, Ketama, por aí. :-) Mas mesmo em Imilchil, no coração do Atlas, quiseram-me vender umas ervinhas que fazem rir. Tudo sem qualquer agressividade. Brinco com tudo, claro. Nunca experimentei drogas em Marrocos e, embora as autoridades pareçam fechar os olhos a muita coisa, é ilegal e não o recomendo nada.

    Quanto à higiene, pelo que vi e tenho lido, os standards nos países árabes, são bem mais baixos em relação aqueles a que estamos habituados. O papel da mulher na sociedade muculmana é também muito diferente daquele a que estamos habituados na Europa. Ainda que não conheça "in loco" o mundo para poder fazer comparações justas, suspeito que é a Europa que é excepção no mundo, na igualdade de sexos e nos direitos das crianças. Gostei das considerações sobre as modalidades de viagem, em termos do número de pessoas. A grande diferença, para mim, está entre viajar a solo e com outras pessoas. Não deixando de gostar de andar em grupos (especialmente pequenos), a solo é mais intenso e completo. Sozinhos temos que nos abrir a quem encontramos pelo caminho (locais) e a coisa torna-se verdadeiramente interessante quando temos problemas (mecânicos, de saúde, etc). Mas como não te quero adiantar o livro, vou-me fico por aqui! :)

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